Aquele encontro foi diferente de todos os que eu tinha tido no passado. Não era um rapaz aflito que estava na minha frente, nem um pai preocupado por causa dos deslizes do filho, nem um casal em crise, à beira da separação. Era um cavalheiro elegante, de rosto sereno e olhar calmo, aparentando mais ou menos 50 anos, pelos fios prateados que clareavam o seu cabelo negro. Estávamos sentados na esplanada de um restaurante. Olhávamos um para o outro sem dar a mínima importância à paisagem majestosa que nos circundava.
"Pastor - disse o homem, sem rodeios - li o seu livro "Conhecer Jesus é Tudo". Foi um presente da minha secretária. Ela é membro da sua igreja e aparentemente é uma mulher feliz. Acho que o senhor é exactamente a pessoa que eu procurava para conversar."
Nos minutos que se seguiram, ele falou da sua vida, dos seus sonhos, da sua família. Era um homem muito rico, dono de um património invejável, possuía uma família maravilhosa, filhos profissionais que participavam activamente no império financeiro que ele tinha construído. Generoso, dava dinheiro para obras de assistência social e cumpria os seus deveres cívicos. Era um bom empresário, um bom pai, um bom marido, enfim, um homem realizado na vida. Ou quase. Não era feliz.
"Tenho tudo para ser feliz - disse - mas sinto uma sensação estranha. É como se me estivesse a faltar algo. Uma espécie de vazio interior. Estou disposto a fazer qualquer coisa e a pagar qualquer preço, a fim de tirar esta sensação de cima de mim. Preciso de ser plenamente feliz, mas, por favor, não me peça para me tornar membro da sua igreja, nem me fale de Jesus."
Olhei para aquele homem e com tristeza vi nele o retrato do homem do século XX, o século das luzes, do raciocínio, da informática e dos voos espaciais. O homem moderno foi capaz de mergulhar nos mistérios do átomo, conquistar o espaço e chegar à lua, mas é incapaz de perceber o que está a acontecer dentro do seu próprio coração. Vive angustiado. Finge que é feliz, tenta inutilmente convencer-se a si mesmo de que é feliz, mas chora interiormente o vazio que dói, que incomoda e angustia.
"Estou disposto a pagar o que for preciso", diz. E não existe limite para os seus esforços a fim de alcançar o seu objectivo:
Pode-se vê-lo a banhar-se nas águas sagradas do rio Ganges, deitar-se em cima de brasas vivas, peregrinar aos milhares para visitar os santuários tão conhecidos em todo o mundo, ou andar de joelhos em procissão até sangrar.
Bem mais perto, pode-se vê-lo a tentar pagar o preço através da meditação, a realizar obras de filantropia, a defender os direitos das classes oprimidas, a participar de marchas em favor da ecologia e da paz, a assinar cheques para obras de caridade ou a visitar creches, asilos e sessões de psicanálise.
Entre os mais jovens, pode-se vê-lo nas discotecas, nos bares, nos embalos de sábado à noite. Pode-se vê-lo desesperado a procurar "se sentir bem" nas sensações alucinantes das drogas e dos prazeres proibidos, ou a defender a liberdade sexual e a nova moral.
Mas, consegue o homem preencher dessa maneira o vazio do coração? Consegue-se a paz com penitências ou com orações? Ou ainda, com sacrifícios e jejuns? Alcança-se a paz com o envolvimento nas lutas sociais ou com sensações de prazer?
Nunca houve na História um tempo de tanta liberdade, de tanto luxo, conforto e aparente democracia como hoje, mas, porque é que o homem não consegue ser feliz? Porque é que a paz interior parece estar sempre a fugir das nossas mãos, como algo que escorrega por entre os dedos? Nunca o ser humano viveu tão angustiado como hoje, nem tão vazio, tão desesperado. Os seus conflitos emocionais, as suas inseguranças económicas, as suas lutas familiares e sociais, as suas frustrações existenciais parecem tê-lo derrotado completamente. Está com medo. O ser humano está com medo de não ser mais do que um computador, uma máquina de produzir, um tijolo. Com uma trágica diferença. Ele tem sentimentos e as máquinas não. Ele é visto como um objecto, como um número no meio da multidão, mas sofre, chora, angustia-se e ninguém se importa com isso.
"Que devo fazer para ser salvo?" É o grito do coração humano através de todas as épocas. "O que devo fazer?" "Como posso ter um pouco de paz?" "Como posso ser feliz?" E milhares de vozes respondem: "Você tem que se esforçar, tem que pagar o preço, tem que merecer; lute, trabalhe, conquiste!"
Ouça, por exemplo, a voz da Ciência. "Não existe isso de pecado", dizem os cientistas. "Se o mundo está a desabar ou se você tem problemas, isso nada tem a ver com o pecado. Organize-se melhor. Investigue mais. Use a tecnologia para resolver os seus problemas."
Os humanistas sorriem-lhe com optimismo. Para eles, o problema do ser humano é apenas um: falta de desenvolvimento do potencial humano. "O homem é o capitão da sua própria embarcação", dizem. "Dentro dele há uma força capaz de resolver qualquer problema e superar qualquer crise. Então - acrescentam os humanistas - a única coisa de que você precisa é de confiança própria."
Ouça os políticos: "Você não é feliz porque não soube escolher o melhor governo. O que o mundo precisa é de uma revolução social. O que o país precisa é de uma mudança imediatamente. Então, vote em mim."
Mas essa não é a resposta divina. Uma noite, Deus disse, através de São Paulo, a um homem desesperado: "Crê no Senhor Jesus e serás salvo."1
Nada de lutar, nada de esforçar-se para ser bom, nada de procurar, nada de fazer coisas para merecer. Crê! Ele diz: "Eu deixo-vos um presente - a paz de espírito! E a paz que Eu dou não é passageira como a paz que o mundo dá!"2
Em que consiste a paz que Deus oferece? Qual é esse tipo de paz que o homem tem inutilmente tentado conseguir ao longo da História com esforços, penitências, sacrifícios e boas obras? E só um mito? Um sonho impossível?
Por trás das marchas de protesto, das lutas sociais, das obras de caridade; por trás da busca incansável da paz, através do uso de drogas e satisfação dos sentidos, há uma frustração crescente que ninguém pode ignorar. Desde as desérticas terras até às ruas asfaltadas das grandes cidades, sem distinção de raça, idade, situação económica, sexo ou grau de instrução, o homem passa com um único clamor: "O que farei?" De que é que na realidade ele está à procura?
Veja a forma dramática como o poeta espanhol Ruben Dario descreve, através dos seus sentimentos, a situação do homem moderno:
Feliz a árvore que é apenas árvore.
E também a pedra porque ela não tem vida,
Pois não existe dor maior do que estar vivo,
Nem maior desespero do que a vida consciente.
Ser e não ter rumo certo.
E o medo de ter sido, e um futuro pavoroso,
E a certeza espantosa de amanhã estar morto
E sofrer pela vida, pela morte,
Pelo que não sabemos e apenas suspeitamos.
E não saber aonde vamos
Nem de onde viemos!...3
Sim, meu amigo, este é um quadro dolorosamente real do homem actual, mas o objectivo deste livro não é apenas descrever a trágica condição do ser humano. É acima de tudo, mostrar que há esperança. Tem Deus a solução? Onde está a paz que Ele ofereceu? Há lugar para Jesus na década da informática? Os capítulos a seguir descrevem o porquê da angústia humana e a solução para o vazio da alma.
1. Actos 6:31 (A Bíblia Viva).
2. S. João 14:27 (A Bíblia Viva).
3. Lo Fatal, poema de Ruben Dario.
Alejandro Bullón in A Crise Existencial, Edições Reviver, Publicadora Atlântico, Portugal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário