sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Duas faces do poder

    O psicanalista francês Jacques Lacan observou que um cidadão qualquer, quando sobe ao poder, altera seu psiquísmo. Seu olhar sobre os outros mudará. Admita ou não, olhará “de cima” os seus governados, os comandados, enfim, os demais. E observa ainda que o poder “dá um sentido interiormente diferente às suas paixões, aos seus desígnios, à sua estupidez mesmo.”  O filósofo e jornalista Robert kurz, ao comentar sobre o livro Marcha da Insensatez da historiadora Bárbara Tuchman, que fala da estupidez dos governantes, diz: “Talvez seja verdade que o poder torna as pessoas estúpidas e que muito poder as deixa estupidíssimas.
    O ex-presidente dos EUA - Bill  Clinton declarou, em entrevista à TV CBS, que a relação dele com a ex-estagiária da Casa Branca - Mônica Lewinsky foi “um terrível erro moral”. A justificativa dada por ele me chamou a atenção. “Fiz algo pela pior razão possível. Somente porque podia”. Ou melhor, porque exercia poder sobre ela.

O poder da indiferença  -  A história de Clinton nos leva ao terraço da casa real. Davi passeava tranquilo até avistar uma mulher - Bate-Seba - tomando banho. Perceba a semelhança: ele era o rei, tinha o poder. Então, mandou perguntar quem era ela. Depois de saber todas as informações a respeito dela, mandou buscá-la.
    Ele foi indiferente, não se importou com as famílias que sofreriam com isso, mesmo sabendo de quem Bate-Seba era filha e esposa. Afinal, ele tinha poder. Seu erro envolveu adultério, mentira, abuso de poder e assassinato. “um terrível errro moral.”
    Parecem histórias bem distantes de nós. Mas, ainda hoje, ouvimos histórias de pessoas que foram exoneradas, jubiladas, demitidas, transferidas e até execradas, nem sempre por deficiência técnica mas porque os “chefes” tinham poder sobre elas. Não querem nem saber se têm famílias, ou como vão ficar depois dos efeitos ofidicos do mau uso do poder.
    É o símbolo exercendo poder sobre os indivíduos ou grupos. E muitos, sob cetro desses poderes, se tornam Mônicas e Bate-Sebas.
    O filósofo francês Etienne La Boétie chama esse fato de “servidão voluntária”. Se for verdade que, do ponto de vista psicológico, o poder faz o ocupante perder a própria identidade pessoal e assumir outra, os comandados, também mudam. Uns, forçados; outros, voluntariamente. Pelo menos nos dois casos acima, foi isso que aconteceu.

O poder do amor - Há uma pergunta muito comum entre os estudantes novos da Bíblia. Por que Deus não destruiu Satanás assim que ele se rebelou? A resposta, também comum, é: Se Deus fizesse isso, os outros mundos teriam a impressão de que Ele é tirano, despósta, ditador e cruel, e Lhe obedeceriam por temor e não por amor. Deus ficaria com uma imagem negativa para os outros mundos. Essa resposta limita o poder e o amor de Deus.
    Ao contrário do que disse R. kurz, Deus tem muito poder e infinita sabedoria e amor. Ele poderia muito bem ter destruído Satanás, causando amnésia em seres racionais dos mundos, e ninguém saberia que algum dia existiu um anjo chamado Lúcifer. E poderia também, com o uso do poder supremo, ter formado outro casal no Éden, mas Ele não fez essas manobras, porque isso também seria para Ele “um terrível erro moral”, e Seu caráter puro de justiça e amor é imutável. Vale a pena lembrar que todos os tipos de vida que existe são permitidos e mantidos por Deus.
    Se, para alguns, o poder seduz, corrompe, decepciona e faz ponto cego e surdo nos seus ocupantes temporários, o poder de Deus salva, liberta, acolhe, ama e dá sabedoria a quem está disposto a receber.

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