24.3.2016 - “Crise”. Com que
frequência você tem ouvido essa palavra? Uma simples busca do termo no Google
revela que, dos mais de 100 milhões de ocorrências, uma quantidade
significativa se refere ao momento atual que o Brasil e o mundo enfrentam. De fato, vivemos dias difíceis. Nem é preciso
acompanhar os noticiários para perceber isso. Basta olhar ao redor. Em casa, na
rua, no comércio e nas rodas de amigos, o clima é de apreensão e, nas igrejas,
os pedidos desesperados de oração se avolumam. E não é somente a crise política
e econômica que têm causado tanto transtorno. Paralelamente, continuamos
convivendo com outras antigas conhecidas, como a crise na saúde, na educação e
na segurança públicas; a crise moral da sociedade; e ainda outras de caráter
mais pessoal, como crises familiares, psicológicas e emocionais. Em resumo,
vivemos em crise! Crise é sinônimo de
dificuldade, adversidade, tensão, complicação, conflito, etc. A palavra
praticamente não aparece na Bíblia, mas o conceito está presente do começo ao
fim. Desde a rebelião de Lúcifer no Céu e a queda da humanidade no Éden (Ap
12:7-9; Gn 1-3), passando por toda a história do grande conflito e a cruz, até
a vitória final de Deus sobre o pecado e o mal (Ap 19-22), as Escrituras apresentam
os altos e baixos de um mundo em constante crise. Além do conceito, a Bíblia
também contém a etimologia da palavra. “Crise” deriva do vocábulo grego krisis,
que ocorre oito vezes no texto original do Novo Testamento, sempre com o
sentido de juízo, julgamento ou decisão.
Nos escritos de Ellen White, o termo crisis, em inglês,
aparece cerca de 50 vezes e é utilizado para definir diferentes situações,
desde problemas circunstanciais na vida pessoal até momentos decisivos da
história da redenção. Alguns exemplos do que Ellen White considerava
crise: - A luta e a agonia de Cristo no
Getsêmani diante do fato de que estava em jogo o futuro da humanidade (O
Desejado de Todas as Nações, p. 693).
- Os desafios enfrentados pela igreja primitiva em seu período formativo
(Atos dos Apóstolos, p. 88, 405).
- Os momentos difíceis através
dos quais Deus conduziu, conduz e conduzirá sua igreja (Review and Herald,
20 de setembro de 1892). - O tempo
atual, na iminência do fechamento da porta da graça, em que é urgente advertir
as pessoas (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 371). - Os
acontecimentos finais da história; o tempo de angústia; a futura perseguição do
povo de Deus e a última batalha entre as forças do bem e do mal (Testemunhos
Seletos, v. 2, p. 318-320; v. 3, p. 280;Profetas e Reis, p. 536). - Lutas
pessoais; provações e problemas em geral (Carta 47, 1889; Carta 70, 1894; Ciência
do Bom Viver, p. 119). - Crises financeiras (Conselhos Sobre
Mordomia, p. 97). Tanto na
Bíblia quanto nas obras de Ellen White, a crise representa um momento crucial
da vida ou da história, em que as decisões tomadas determinam o futuro, de
forma positiva ou negativa. Convivendo com a crise Tempos críticos
não são “privilégios” desta geração. A história da humanidade está pontilhada
de momentos conturbados e angustiantes, sobretudo na trajetória da igreja.
Jesus, que enfrentou as crises mais difíceis, foi quem previu que, neste mundo,
teríamos aflições (Jo 16:33). Os heróis da fé tiveram que aprender a lidar com
as intempéries da vida. Paulo, por exemplo, declarou: “Aprendi a adaptar-me a
toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter
fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja
bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso
naquele que me fortalece” (Fp 4:11-13, NVI).
As crises também fizeram parte da rotina dos pioneiros do adventismo.
Numa época em que os pastores tinham que dividir o tempo entre a pregação do
evangelho e o trabalho duro no campo, Tiago e Ellen White, como outros
pioneiros, lutaram contra a pobreza, as terríveis privações, enfermidades e a
perda de entes queridos. A situação financeira do casal era tão precária que,
certa vez, ao remendar o casaco já remendado do esposo, Ellen afirmou que era
difícil identificar o pano original das mangas (Vida e Ensinos, p. 116). Diante das dificuldades, ela
chegou a questionar se Deus os havia abandonado, mas acabou concluindo que “os
sofrimentos e as provações nos aproximam de Jesus” (Idem, p. 115).
Atitude certa Sem dúvida, a melhor
solução para enfrentar as crises da vida é apegar-se a Deus. Como mostram
Lothar C. Hoch e Susana M. Rocca no livro Sofrimento, resiliência e fé:
implicações para as relações de cuidado, a psicologia tem
comprovado que a fé tem um papel fundamental na superação de dificuldades e
experiências traumáticas. No entanto, em
meio ao turbilhão de uma crise, é normal que as pessoas tenham atitudes diferentes
em relação à religião ou à espiritualidade. Há aqueles que, nos momentos de
dificuldade, simplesmente abandonam a fé. Permitem que o desemprego, as contas
atrasadas, a ameaça de despejo, as doenças ou os conflitos familiares os
desanimem e os afastem de Deus e da igreja. As preocupações são tantas que a
leitura da Bíblia e a oração são deixadas em segundo plano, quando não
totalmente esquecidas. No outro extremo, a segunda atitude é a daqueles que,
quanto mais sofrem, mais se aproximam de Deus e das coisas espirituais. A pessoa
que assume essa postura entende que sua única esperança está além deste mundo e
que orações mais fervorosas, mais estudo da Bíblia e mais frequência à igreja
poderão trazer bons resultados, seja na solução dos problemas ou em obter a
força necessária para suportá-los. A terceira atitude frente a momentos de
crise é aquela em que a pessoa não abandona completamente a fé nem recorre a
ela com maior intensidade, mas acaba adotando um comportamento intermediário,
semelhante à mornidão da igreja de Laodiceia (Ap 3:14-18). Quem está nessa
condição tem a consciência de que não pode viver sem Deus e sem a comunhão da
igreja, por isso segue com suas práticas religiosas, mas de maneira mecânica,
com o brilho ofuscado pelo excesso de preocupações. Qual desses é o seu perfil?
Como você tem reagido às provações da vida? Qual é o efeito da crise sobre sua
fé? Tempo de oportunidades Na
Bíblia, a crise e o sofrimento são comparados ao fogo que purifica o metal
precioso de nossa fé (1Pe 1:6, 7; 4:12, 13; Rm 5:3-5; Hb 11:35-38; Tg 1:12).
Ellen White escreveu que “as provações da vida são obreiras de Deus para
remover de nosso caráter impurezas e arestas.” Segundo ela, só as pedras que o
Mestre considera preciosas são submetidas ao desgastante processo de lapidação
e polimento, para servirem “como colunas de um palácio” (O Maior Discurso de Cristo, p. 23,
24). Thomas DeWitt Talmage, um dos
grandes pregadores do século 19, resumiu de forma poética o resultado da crise
na vida dos personagens bíblicos: “Quando Davi andava em fuga pelo deserto, ele
estava sendo preparado para se tornar o suave cantor de Israel. A cova e a
masmorra foram as melhores escolas em que José foi diplomado. O furacão que
desmantelou a tenda de Jó e matou seus filhos preparou o homem de Uz para […] o
magnífico poema que tem sido o encanto de todas as épocas. Não existe outro
meio de extrair da palha o trigo, senão trilhando-a. Não há outro meio de
purificar o ouro senão queimando-o” (One
Thousand Best Gems, p.83).
Por mais difíceis e traumáticas que sejam, as crises podem ser encaradas
como ocasiões de oportunidade de aprender, crescer e se fortalecer. As crises
não duram para sempre, mas os frutos de decisões tomadas em tempos difíceis
podem ser eternos. É preciso lembrar que, comparados à eternidade, nossos
sofrimentos nesta vida são “leves e momentâneos”. Por isso, devemos fixar os
olhos “não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é
transitório, mas o que não se vê é eterno” (2Co 4:17, 18, NVI). EDUARDO RUEDA é editor dos livros de Ellen G. White na Casa Publicadora
Brasileira
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