sábado, 5 de março de 2016

Não ignore as eleições nos EUA. Donald Trump é um perigo também para o Brasil

01.3.2016  -  Enquanto a Operação Lava Jato dispara contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que dispara contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que dispara contra a presidente Dilma Rousseff, que dispara contra o presidente da Câmara Eduardo Cunha, a 7.300 quilômetros daqui o destino de bilhões de pessoas, entre elas, milhões de brasileiros, começa a ser desenhado. A eleição presidencial americana, um dos pleitos mais longos e complexos do planeta, teve um capítulo decisivo nesta terça, 1º de março – a chamada Super Terça, quando aconteceram as 12 primárias estaduais que definiram os candidatos dos partidos Democrata e Republicano para a disputa.  Atualizado, quarta 02.03Como tudo indicava, a senadora nova-iorquina Hillary Clinton, pelos democratas, e o magnata do setor imobiliário, Donald Trump, pelos republicanos, consolidaram as suas vitórias na Super Terça, levando alguns Estados de baciada. Agora é que são elas, melhor dizendo, eles.  Em quê isso impacta a sua vida? Em muita coisa. Uma possível vitória de Trump, em 8 de novembro, teria consequências desastrosas para o Brasil e o mundo. E antes de encher o peito e dizer que você não tem nada a ver com isso, saiba que os brasileiros foram mencionados na cantilena xenófoba de Trump por pelo menos duas vezes recentemente. Para Donald Trump, os brasileiros “roubam empregos” dos americanos .      Ao participar do programa Face the Nation, do canal CBS, em novembro, Trump, cujo slogan de campanha é Make America Great Again! (Fazer a América Grande de Novo, em tradução livre), disse, sem dar detalhes, que “traria de volta aos Estados Unidos um grande número de  postos de trabalho da China, do Japão, da Índia e Brasil, países que estão roubando nossos empregos”.  Duas semanas antes, ao participar de um especial do programa Today, da NBC, ele sentenciou: “Olhe nossos negócios com o Japão. Eles nos dão milhões de carros. A gente não recebe nada em  troca. É uma rua de mão única com eles. O Brasil também. Não tem um país que não tira vantagem da gente”. As menções aos brasileiros são sinais particularmente graves, se levarmos em conta que Trump pode: contribuir para dificultar as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos; impor barreiras comerciais ao País e dificultar a vida de imigrantes brasileiros na América. Só para começar. Neste oceano de mediocridade política, onde os adversários Ted Cruz, Marco Rubio e John Kasich se afundaram em argumentos insossos e os caciques republicanos foram obrigados a engolir o carisma de Trump goela abaixo, o todo poderoso nadou de braçada e, acredite, tem chances reais de tornar-se presidente dos Estados Unidos. Debochado, superficial, grosseiro, dono de ideias simplórias e de um discurso infantil, o magnata exerce fascínio em parte considerável do eleitorado e parece imune a tropeços. A audiência de Trump, que só faz crescer, se encanta com a espetacularização de seus comícios, com os absurdos que saem de sua boca e, principalmente, com sua trajetória vencedora. Admite que tem pavor dos imigrantes, dos muçulmanos, de perder o emprego e de não poder se armar para se defender.  Trump, que devolve o apoio com caras, bocas e clichês, lidera entre os cristãos evangélicos, mulheres, moderados, eleitores com ensino superior e eleitores conservadores mais pobres. E está na frente entre os eleitores que têm probabilidade maior de ir às urnas (lá, o voto não é obrigatório). Na semana passada, Trump recebeu a adesão de supremacistas brancos da Ku Klux Klan – e não a rejeitou. Além de atacar os brasileiros, o magnata já declarou mais de uma vez que tem obsessão pela construção de um muro em toda a fronteira com o México. Defendeu em seus comícios técnicas de tortura, o impedimento da entrada de muçulmanos no país, a perseguição e morte a familiares de terroristas em solo americano e ameaçou socar o rosto de um eleitor contrário a sua candidatura.   Poder, poder mais poder   Caso o magnata republicano seja eleito, ele terá em mãos 16% do PIB mundial e comandará a maior economia e o mais potente Exército do mundo – carregado de armas nucleares e com um orçamento de R$ 2,4 trilhões anuais. Deterá, ainda, um precioso poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. Os desafios estarão à altura: reerguer a combalida saúde pública, enfrentar a violência doméstica, estimular a economia e o comércio exterior, seguir com a reaproximação com Cuba, acalmar a fronteira com o México, encarar a Rússia na crise de refugiados sírios e agir proativamente no Oriente Médio. Como fará tudo isso, Trump nunca disse. É ou não é para se preocupar?

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