quinta-feira, 28 de julho de 2016

Campeão mundial da maratona se considera favorito à medalha de ouro das Olimpíadas

14.10.2015  -  Em agosto, praticamente um ano antes das Olimpíadas de 2016, no Rio, e no Ninho de Pássaro, cenário dos Jogos de Pequim-2008, um jovem fez história na maratona do Mundial de Atletismo. Com 2h12m27s, Ghirmay Ghebreslassie, de 19 anos, se tornou o primeiro campeão mundial pela Eritreia, república africana fundada em 24 de maio de 1993, num antigo pedaço da Etiópia, leste da África. O etíope Yesame Tsegay, com2h13m07s, e o ugandês Munyo Solomon Mutai, com 2h13m29s, foram segundo e terceiro colocados, respectivamente.
Teenager (adolescente), como foi chamado no dia da vitória, foi o mais jovem campeão mundial em maratonas. E surpreendeu, pois não era favorito. Antes disso, a única medalha de um eritreu em mundiais de atletismo fora a prata de Tadese Zersenay nos 10.000m em Berlim-2009.
Ídolo nacional, Ghebreslassie estará no Rio para tentar, no dia 21 de agosto, o último das Olimpíadas, vencer a maratona, com largada e chegada no Sambódromo.
— Sim, eu me considero favorito no Brasil — declarou Ghebreslassie, em entrevista ao GLOBO por e-mail. — Conheço o país por seus jogadores de futebol, e sei que a Copa do Mundo foi aí em 2014.
Daquele país têm saído milhares de refugiados rumo à Europa — junto com sírios, afegãos, somalis e nigerianos. No caso da Eritreia, governada com mão-forte desde a independência por Isaias Afworki e apelidada de “Coreia do Norte africana", pela repressão, a ênfase no serviço militar teria feito famílias emigrarem. Calcula-se que 12% dos refugiados sejam oriundos da Eritreia.
Herói nacional
Indagado sobre a situação política de seu país, o fundista foi lacônico, restringindo-se a falar somente do esporte:
— É ótimo e de grande ajuda a quem quer uma vida melhor.
Nascido em Kisadeka, a 115km da capital Asmara, torcedor do Manchester United e fã de Cristiano Ronaldo, Ghebreslassie contou que a festa por seu título durou vários dias:
— Foi incrível. Até agora as pessoas vêm me falar o quanto elas estão felizes. O aeroporto e as ruas da capital estavam lotadas, com as pessoas fazendo muita festa. Cantores famosos cantavam músicas sobre mim e minha vitória.
A chegada de Ghebreslassie ao atletismo aconteceu há pouco mais de três anos, em provas de meio-fundo (5.000m e 10.000m). Em 2013, aos 17 anos, correu os 21km de Paderborn, na Alemanha, em 1h00m09s , recorde mundial júnior. Em sua primeira maratona, a de Chicago-2014, foi coelho (corredor que dita o ritmo para os favoritos), mas terminou em sexto, com 2h09m08s. Em abril deste ano, em sua segunda maratona, em Hamburgo, foi vice-campeão. Em Pequim, superou campeões olímpicos e recordistas mundiais favoritos como Wilson Kipsang e Dennis Kimetto, do Quênia, e Stephen Kiprotich de Uganda, ouro em Londres-2012.
— Há duas gerações, os etíopes trazem grandes recordistas jovens de maratona. Eles conseguiram banalizar o mito de que maratonista bom é maratonista velho. Tem uma garotada, de cerca de 21 anos, correndo muito forte — analisou Lauter Nogueira, técnico e comentarista de atletismo da Rede Globo e do Sportv.
Segundo ele, o feito de correr os 42km em menos de 2h será de um eritreu, etíope ou queniano.
— Essa marca deve ser conseguida em 14 anos por jovens da Eritreia, Etiópia ou Quênia, que atualmente correm os 5.000m e os 10.000m em 12m30s e em 26m05, respectivamente. O ideal é correr confortavelmente 2m52s por quilômetro na maratona.
Indagado sobre por que os campeões de maratona são africanos, Gebreslassie destacou fatores, como a altitude e o trabalho no campo.
— A maioria de nós depende da pecuária. Desde a infância, crescemos em fazendas, o que fortalece nossos corpos.<SW> A longa distância é a minha prova favorita. Ter ganho a meia-maratona na Alemanha, em 2013, me deu uma grande motivação para me dedicar mais para essas provas. Na preparação para a meia-maratona, treino de 20 a 26km por dia, e para a maratona, de 30km a 38km diariamente. — afirma ele, que já superou três lesões sérias na carreira tão curta. — Estou muito feliz por ser campeão mundial. Era um dos meus sonhos. Quando conquistei isso em Pequim, minha mente ficou cheia de felicidade, em especial quando ergui minha bandeira. Chorei muito, e meus companheiros de equipe também. É o primeiro ouro do meu país em maratona no Mundial, e é uma vitória especial para a Eritreia e para mim na história do atletismo.

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