quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Doping no atletismo assombra Rio 2016

23.2.2016  -  As denúncias de práticas sistemáticas de doping no atletismo com o conhecimento e aprovação de autoridades está ameaçando afetar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Algumas das provas mais nobres e esperadas pelo público, como os 100m rasos, correm o risco de ter o brilho ofuscado pelo escândalo deflagrado em novembro do ano passado – e que parece piorar a cada dia. O doping no Atletismo sempre foi um fantasma muito presente no esporte. No entanto, o último relatório da WADA, a Agência Mundial Antidoping, revelou que ex-dirigentes da IAAF, a Federação Internacional de Associações de Atletismo, estariam envolvidos em conivência com casos positivos de doping de atletas russos. Como resultado, a Rússia foi suspensa das competições de atletismo. A segunda parte do relatório ainda ampliou a acusação – a IAAF teria ajudado a acobertar casos de vários países. A Rússia foi obrigada a se mexer e, no final de janeiro, o Comitê Olímpico Russo suspendeu as atletas Maria Nikolaeva, Elena Nikulina, Irina Maracheva (medalhista de prata nos 800m do Europeu de 2012, em Helsinque) e Anna Lkyanova. Lkyanova é marchadora e corresponde ao trigésimo caso de atletas pegos por doping oriundos do centro de treinamento de marcha olímpica da cidade de Saransk, na Rússia.      O indício de doping sistemático não é exclusividade dos russos. Carta confessa e denuncia prática há vinte anos .  Em 5 de fevereiro, o portal chinês Tencent publicou uma carta datada de março de 1995, na qual a estrela do esporte chinês, Wang Junxia, denunciava práticas de doping no atletismo de seu país. Ainda recordista dos 3.000 e 10.000m, Junxia e outros nove atletas que assinaram a carta jogavam luz na utilização, às vezes forçada, de doping pelo treinador Ma Junren. Junren coordenou uma equipe (o chamado “exército de Ma”) que, durante a década de 90, quebrou 66 recordes mundiais. Ainda de acordo com o documento, Junxia afirma que o Governo chinês sabia e aprovava a operação. Com a credibilidade já devastada, a IAAF solicitou à Federação Chinesa a averiguação da veracidade da carta. Com 66 recordes mundiais dos anos 90 colocados sob suspeita, atletas e autoridades do mundo todo exigem medidas que coíbam o doping no atletismo e o uso de substâncias proibidas também nos demais esportes.

Efeitos e suspeitas  -  Imediatamente após as quatro suspensões do Comitê Olímpico Russo, atletas americanos enviaram uma carta aberta ao Comitê Olímpico Internacional e à WADA pedindo que atletas russos de outros esportes também sejam investigados. A IAAF, no olho do furacão, perdeu patrocínios de empresas como a Adidas e a Nestlé. O caso é tão trágico, que o programa IAAF Kids, que já atendeu mais de 15 milhões de crianças no mundo todo, será afetado justamente porque a Nestlé era sua maior incentivadora. Na Rússia, nas duas primeiras semanas de fevereiro, dois ex-dirigentes da Rusada, a Agência Russa Antidopagem, morreram repentinamente. No dia 3, o diretor fundador da Rusada, Vyacheslav Sinev morreu de causas não esclarecidas. No dia 15, Nikita Kamaev, ex-diretor da entidade, sofreu um infarto fulminante. Kamaev foi um dos cinco dirigentes que renunciaram ao cargo quando as denúncias sobre o doping no atletismo russo foram feitas. Pressa para correções - Assolado por 43 casos de doping no atletismo desde 2012, o Quênia corre contra o tempo para evitar que seus atletas fiquem fora das Olimpíadas deste ano. O país, que é um dos maiores vencedores de provas de atletismo da história, perdeu o prazo da WADA para se adequar ao novo código que busca combater com mais rigor o doping no país. Ainda assim, os quenianos ganharam mais dois meses para a adequação. O diretor-executivo da Federação de Atletismo do Quênia, Isaac Mwangi, também está envolvido em escândalos. Ele pediu afastamento após ser acusado de pedir propinas para reduzir as suspensões de dois atletas quenianos. Joy Sakari e Francisca Kokki Manunga foram pegos no antidoping no Mundial de Pequim, no ano passado, e hoje cumprem suspensão de quatro anos. Em entrevista à Associated Press, os atletas afirmaram que Mwangi teria pedido 50 mil dólares para diminuir o tempo de suspensão. Nesta segunda-feira, Mwangi foi suspenso pela IAAF provisoriamente por 180 dias. Além dele, o presidente, o vice e o ex-tesoureiro da Federação do Quênia também estão suspensos.

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